Chegamos no ultimo dia de postagem de contos e eu não poderia deixar de postar o meu relato aqui. Pensamentos e acontecimentos misturados, onde termina a realidade e começa a fantasia?
Escuridão
Porque me dar ao trabalho de falar
Se ninguém me ouve
Eu grito
mas não sai voz
Pelas ruas ando
Mas ninguém me vê
(26/07/2017)
Estou andando pela calçada do lado esquerdo da rua, o lado da praia, indo para a escola. O dia está quente e estou vestida com calça jeans, tênis e moletom, pois sei que na volta estará frio. Por onde ando posso ouvir o som das ondas quebrando na praia e sinto o frescor da brisa, que refresca o suor que se acumula na minha pele, imagina, nem é verão ainda e esse calor todo.
Eu me perco em pensamentos quando o tempo fecha e escurece, mas não porque vai chover, é quase meio dia e o sol brilha sem uma nuvem no céu. Tudo fica escuro e sombrio, e a única luz que me faz enxergar naquela rua é a luz dos pequenos postes na calçada, aquele estilo antigo que parece uma lamparina quadrada, a pouco mais de dois metros de altura. Parecia somente funcionar com a minha presença perto, os fazendo acenderem conforme me aproximo e apagarem quando me afasto.
Ei, espera, eu estava andando na calçada, agora no meio da rua, que a propósito, não é mais pavimentada, agora é de lajota, com musgo, toda desparelha e com pedras faltando, diminuo o passo e tomo cuidado, pois está escorregadio.
O que está acontecendo?
Eu não sou de assustar fácil, mas a situação é sombria demais, até o Vingador, vilão da Caverna do Dragão, ficaria com medo no meu lugar. E para piorar ouvi assobios, mas eu não consigo ver mais do que cinco metros em qualquer direção.
Mas eu conheço essa melodia assobiada, só não lembro. Ouço um estalar em meus ouvidos, é claro! Como eu pude não lembrar, é Wind of Change, do Scorpions. Linda música, mas ainda não sei de onde ela vem. Recomeço minha caminhada, mas parece que o som do assobio vem de todas as partes. E logo toda a música é tocada apenas pelo assobio e retorno ao silêncio daquela escuridão. Então percebo que nem o som do mar eu ouço mais.
Isso parece loucura, como pode? Aperto meus passos para sair tão logo dali quanto entrei, mas é em vão, pois já passara pelo menos dez minutos de caminhada, e quando olho no meu relógio de pulso ele não andara nem um segundo depois da última vez que o conferi ao meio dia e dez. Ótima hora para acabar a pilha do relógio.
Canso de caminhar e paro para descansar, encontro um banco na calçada do lado oposto o qual eu caminhava antes, embaixo de um poste de iluminação. Minha boca começa a secar, e sei lá onde eu estou. Não faz mais calor, pelo contrário, o frio que eu sinto só aumenta com essa escuridão. Sinto um frio passar por mim, mas não tem vento, acho que é o medo me pregando peças.
― Laura ― uma voz masculina e sombria cantarola perto do meu ouvido direito.
Eu estou cantando baixinho uma música que está na minha cabeça, enquanto olho meu All Star surrado, dou um sobressalto ao ouvir meu nome. Mas é só o que me faltava, fantasmas. Olho em todas as direções à procura da coisa- fantasma ou o que quer que seja- que me chama, seja lá o que for sabe meu nome. Mas não encontro nenhuma sombra, nada que pode denunciar que eu não estou sozinha, o que de fato é verdade. Levanto do banco e tomo a coragem que eu não tenho, eu sinto uma força aqui dentro que eu preciso fazer isso.
― Oi? ― Eu pergunto, com certo receio e um frio na barriga para o silêncio das sombras. - Alguém ai? Apareça!
Os próximos cinco minutos são os mais bizarros da minha vida, pois fico olhando em todas as direções escuras ao meu redor, e parece ser eu e meu medo. Não tenho escolha a não ser retomar a caminhada, eu nem lembro o que eu estava fazendo antes disso... Ah, eu estava indo para a escola, lembro ao ver as alças da minha mochila em meus ombros.
Novamente cansada de caminhar naquela situação, com sede e agora com fome, eu já não sei mais o que fazer. Perdera-me no tempo, não faço ideia de onde eu estou, e agora a fome, além da sede a qual eu já sentia e só aumenta.
Algo inusitado acontece, o sol volta a aparecer devagar e a estrada de lajotas acaba no início de uma floresta com árvores de tronco fino e comprido. Não conheço muito árvores, mas parece eucalipto. Uma luz muito forte vem do fim da trilha em meio aos troncos magros e altos. Junto a força que eu não tenho e adentro à mata, penso em correr, mas me sinto muito fraca, então só caminho rápido. Sinto alguns bichos me picando, claro que tem insetos ali, mas não dou bola.
Quanto mais me aproximo do fim das árvores, uma clareira se abre e vejo mais luz, como um sol escaldante no meio do deserto e sem óculos escuros, preciso semicerrar meus olhos por causa da claridade, mas vai ficando mais forte até que eu acordo.
É tudo um sonho. Ainda meio assustada, levanto da cama e começo a me arrumar para ir à escola.
Aline Duarte, nasceu no final da primavera do ano de 1992, na capital catarinense, no sul do Brasil. Em 2015, publicou solo e independente Segredos- Todos Temos Um. Em 2017, publicou antologia de contos Sem mais, o amor, pela Andross Editora, e antologia de poesias A Viagem do Pólen da Vida, em parceria com o Professor Lenilson e Editora Perse. E em breve lançará sua primeira quadrilogia Coração de Oceano, livro um.
Facebook Escritora Ali Du
Instagram @alinecarpesduarte
Wattpad @escritoraalidu
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