Era uma manhã fria, o sol não tinha nascido ainda. Amanda já estava acordada e escovava os dentes apressadamente. Uma voz em sua mente dizia "sair de casa 5:50 horas, o ônibus passa exatamente às 6 horas. Preciso chegar no serviço às 7:30 horas."
Terminado ela checa sua mochila novamente e a voz "celular, passe de ônibus, crachá, escova de dentes e...", é interrompida pela vibração do celular anunciando que já era 5:50 horas. "As chaves, as chaves!" sussurrou com pressa. "Eu preciso das chaves!", o celular vibrou novamente anunciando que eram 5:55 horas. "Achei", sussurrou. Pegou sua mochila, fechou rapidamente a porta da casa, depois o portão e saiu quase que correndo em direção ao ponto de ônibus.
Chegou ao serviço, uma rede de fast food. Seu primeiro emprego registrado em carteira. O trabalho não é mole, mas também não pesado. Ela sabe fazer tudo dentro da empresa e aprendeu tudo em menos de um ano. Essa era sua rotina de segunda a segunda, suas folgas era escaladas e não tinha um dia fixo. Ficava em casa apenas a noite, já que saia cedo e chegava tarde da noite por causa dos ônibus, e por isso ficava em seu quarto ate pegar no sono e às vezes chorando pedindo por uma vida melhor.
O cheiro do ambiente de trabalho ficava em suas roupas, o que a fazia perder o apetite quando chegava em casa. Sua refeição era seu almoço e era feito na empresa mesmo e um café com torta às vezes quando tinha dinheiro sobrando.
Nas folgas ela lavava seu uniforme, pagava suas contas e escrevia. Sua dor, sua angustia, seus sonhos. Sonhos distantes.
Namorado? Ela não tinha tempo para isso. Ela ate namorou, mas nem chegou a fazer 6 meses. Amanda tinha um sonho. Aliás, vários.
Um estava prestes a começar a realizar. Matriculou-se em um curso de Psicologia. Por conta de uma depressão ela não se comunicava, raramente interagia com a turma.
Ninguém de sua famÃlia sabia de sua doença, diziam que era para chamar a atenção, que era manha, mas ninguém tentava entendê-la, saber quais eram seus sonhos, seus medos. Amanda se ressentia em ver casais felizes, rodas de amigos conversando entusiasmados, uma famÃlia comendo reunida, pessoas fazendo compras e se enchendo de sacolas, crianças jogando videogame... Seu emprego ficava na praça de alimentação de um shopping, então não era difÃcil não ver pelo menos uma dessas cenas todos os dias.
Além desses sintomas existia também hipersensibilidade sentimental, não é que ela era mimada e que não aceitava um "não". Quando alguém dizia um não, ela não era apenas três letras. Era uma rejeição total e que não equivalia apenas naquele momento. Algo ficou gravado em seu subconsciente, talvez fosse na sua gestação, ou não.
Fazia horas extras para não chegar cedo em casa e desabar em lagrimas pela angustia que vinha como o vento, não se sabe de onde veio. Nesse curso encontrou um cara que parecia ser legal. Parecia um maloqueiro, mas era educado e não mostrava perigo. Conversaram algumas vezes por "MSN de papel"(bate papo escrito). Ele a acompanhou algumas vezes ate o terminal de ônibus. Amanda não queria se apaixonar. Sentia uma dor cortante ao pensar em amor, namoro ou coisa do gênero.
Durante o primeiro ano do ensino médio, aquela agitação de escola nova, pessoas diferentes, o cenário perfeito para "pegar" alguns gatinhos.
O pegar daquela época não era o mesmo de hoje em dia. A moda era beijar, e se tivesse sorte talvez namorar. Todos queriam beijar, mas sonhavam em namorar uma garota ou garoto(não era moda ser homossexual ainda).
Amanda não era a mais popular, mas fez amizade com três garotas, que tinham os mesmo pensamentos que ela, gostavam de assistir filme e zoar as garotas "poderosas". Se uma delas conseguisse beijar algum garoto naquela época seria uma grande conquista. Mas Amanda era diferente delas em algumas coisas.
Ela era linda, tinha um corpo perfeito e se não bastasse o exterior, era meiga, inteligente e simpática, coisa que as "piriguetes" não tinham. Foi justamente o que o jovem Mike viu nela quando uma amiga dela chegou nele dizendo que Amanda estava afim de "ficar" (beijar, na época) com ele. Amanda estava tão desolada que ansiava por um único beijo que sempre fora negado. Mas porque uma garota tão bacana não era desejada? Respostas:
1. Ela era humilde de mais para ficar com meninos amigos de "piriguetes".
2. Ela não era muito chegada em moda e então sempre usava roupas estranhas(para os meninos e meninas "piriguetes").
Mike se encantou com Amanda desde que seus olhares se cruzaram, seus cabelos escuros e longos esvoaçando contra o vento. Amanda estava muito nervosa com "o beijo", e nem notou que ele sorria com as "atrapalhadas" dela enquanto ela falava. Não sorria debochando, mas como quem ama. Até que ele a cala com um beijo, o beijo. Doce, macio. Ela interrompe, fazia pouco tempo que aprendera a beijar e não sabia "beijar de lÃngua".
-Tudo bem- disse ele e voltou a beijá-la "cinematograficamente". Foi o melhor beijo que recebera, não tinha tanta experiência assim, mas foi ótimo. Como ela estava nervosa. Eles se afastaram e conversaram um pouco. Estavam atrás da escola com vista para a quadra de esportes. Beijaram-se novamente. O sinal soou anunciando o fim do intervalo.
-Precisa ir?- Pergunta ele.
-Não, é aula de educação fÃsica.
-Ah, então tudo bem, respondeu ele aliviado e puxando-a pela cintura e beijando-a novamente.
Uma turma de amigos do irmão de Mike estava vendo os dois e começaram a "agitar" dizendo coisas do tipo "pega na bunda dela", ou "pega nos peitos dela", ou até "encoxa ela na parede". Amanda ficou com vergonha e logo se avermelhou. Mike gentilmente recua a puxando para perto de si.
-Vem mais para trás. Aqui eles não podem te ver, ai você não fica com vergonha- e a beija novamente. Ele olha no relógio e diz que está quase acabando a aula, conversam mais um pouco enquanto caminham em direção à sala de aula quando avistam a professora de educação fÃsica.
-Oi professora, estou aqui- disse ela esboçando um enorme sorriso.
-Ah, então você esta ai Amanda, vou anotar. Oi Mike- diz ela percebendo a presença de seu aluno e o que havia acontecido anteriormente- agora você tem um bom motivo para ficar mais tempo na escola, não é Mike?
-É sim professora. Eles então chegam até a sala de aula de Amanda e se despedem, pois logo que chegam o sinal de troca de aulas toca.
-Você precisa ir, ou pode perder mais uma aula por causa de mim- diz ele sendo cauteloso. -Tudo bem- diz ela em seguida entrado na sala, sentando-se em sua mesa e preparando seu material. Ele a observa enquanto ela se desloca até sua mesa e quando ela se senta ele se despede novamente lhe desejando uma boa aula.
-Te vejo amanhã?- pergunta ele.
-Claro que sim.
-Tudo bem, agora eu vou mesmo porque a professora está chegando e não temos um bom relacionamento.
Ela ri e ele sai, mas foi inevitável. Por trás de toda a bagunça de crianças e adolescentes conversando do lado de fora da sala na troca de professores, foi inevitável não ouvir:
-Olá Mike. Seu turno não é de manhã?
-Sim professora- ele respondeu.
-O que faz aqui então? Aprontando de novo?
Então ela se estica e coloca a cabeça para dentro da sala e vê Amanda apenas com o caderno aberto na matéria e um dicionário de inglês sobre a mesa. Ela sorri quando seu olhar cruza com o da Amanda que lhe devolve o sorriso. A professora sussurra algo para Mike que é inaudÃvel para Amanda, mas o que ela consegue escutar era "fique longe dela". Amanda fica pensativa, e logo percebe que ele não deve ser boa pessoa aos olhos dos professores e tem a certeza que não irá vê-lo mais.
Logo em seguida entra na sala a professora e os demais alunos se enxugando com toalha de rosto, outros tomando água na garrafinha, mas todos conversando auto, como se quisessem chamar a atenção. Duas amigas de Amanda e a amiga "cupido" entram eufóricas e sentaram-se em seus lugares, ao redor de Amanda.
-Você sumiu! O que aconteceu?- perguntou Maria Clara rapidamente e sem pausa.
-Ele é um gato! Beija bem?- pergunta Rosi Potter apressadamente.
-E então fiz o meu papel direitinho? Vocês estavam tão lindos juntos!- disse Carmen Rios, a cupido.
-Ele além de lindo e cavalheiro, beija muito bem- respondeu Amanda quase que sussurrando às suas amigas, querendo manter discrição- você estava nos espionando, Carmen?
-Nós três na verdade- entrega Rosi- Você é a mais linda de nos 4 e a primeira a beijar algum menino, tivemos que ir te vigiar, vai que ele era um tarado!- Todas riem e a professora da inicio à aula.
Depois de um tempo o sinal soa novamente anunciando o fim das aulas naquela tarde. Todos arrumam suas mochilas, e Amanda enquanto isso contava o que acontecera mais cedo. Ela e as meninas se deslocaram até o bicicletário e quem estava lá perto das bicicletas? Sim, Mike.
-Nós vamos indo na frente Amanda.
-Tudo bem- responde ela- Eu alcanço vocês.
Mari e Rosi pegam suas bicicletas e parte rumo suas casas, que ficam próximas, e de Amanda também. Carmem segue na direção contrária a pé.
-Achei que não te veria mais.
-Por quê?
-Eu escutei a professora de inglês cochichando com você ficar longe de mim...
-Hum, mas ela não manda em mim, a não ser que você queira ficar longe de mim, eu respeitarei.
-Não tenho motivos, ainda- ambos riem, ele a beija e depois a acompanha até a saÃda da escola, se despedem e ela segue em direção a suas amigas. Ela as encontra e termina de contar o que acontecera.
E assim sucede nos dias posteriores, Mike que estuda no perÃodo da manha, vai à tarde ver Amanda antes do horário da aula começar, ou dependendo do dia, quando ele consegue entrar na escola depois do horário, ele vai à hora do intervalo vê-la. É tão pouco tempo para se verem, para tocar, beijar, desejar... Mas já era o suficiente para seus corações se gostarem, respeitarem, amarem. Depois de um tempo ele disse onde ele morava que era perto da escola, ela poderia passar na casa dele rapidamente depois da aula.
Todo dia, semana e mês era motivo de comemoração, estavam se amando e aproveitavam cada minuto que estavam juntos. Mas o medo de ser traÃda era maior do que ela a cada dia. Dizem que quando você pensa muito em algo, seja bom ou ruim você acaba atraindo a você.
Chegou o mês de julho e começou os preparativos para as festas de tal época. No dia que antecedeu a festa da escola ela o pergunta se ele iria, negou, mas depois vendo a cara de decepção dela ele muda de ideia.
O dia da festa chegou, Amanda estava com suas amigas e já nem se lembrava da hora, quando ele aparece atrás dela silencioso. Suas amigas se silenciam e ele tapa seus olhos, mas ela reconhece seu cheiro, delicioso. Despediu- se de suas amigas e saÃram de mãos dadas e seguiram para um lugar mais tranquilo, o lugar onde tudo começou. Lá puderam se conhecer mais profundamente. Aproveitaram para se beijar ao máximo. Já estava escurecendo quando Amanda recebe uma ligação de sua mãe para ir embora. Despediram-se.
Aline C. Duarte
Contos: Sonhos distantes 2013
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