[Contos de Halloween] O Cemitério por Aline Duarte

Olá Leitores!

Como prometido, postarei contos ao longo dessa semana, começando pelo meu conto (escrito no domingo 😁 as pressas). Fiquem com O Cemitério!



-Philip! Anda logo, já está todo mundo lá na rua nos esperando!- Anna, uma tenebrosa bruxa de Salem, com nariz verrugado preso por um elástico por cima da orelha, um vestido roxo de cetim com detalhes em renda e um enorme chapéu pontudo pendendo para o lado, calçando sapatilhas decoradas com aranhas de plástico, carregando em suas mãos um pequeno caldeirão preto escorrendo sangue falso, na faixa dos cinco anos de idade, gritou para seu irmão mais velho, um adolescente do oitavo ano vestindo roupas de adolescente do oitavo ano.

Ele resmungou antes de levantar da cama e descer preguiçosamente a escada, que termina em frente à porta da frente, e resmungou mais ainda com a cara feia de seus pais quando eles reclamaram porque ele não estava vestido com a fantasia feita artesanalmente em família durante o mês de outubro.

É uma tradição da família e do bairro, sair no dia 31 de Outubro, depois da abertura do evento na praça principal, às cinco horas da tarde, na casa dos vizinhos pedindo doces ou distribuindo travessuras. O filho mais novo coleta os doces e o filho mais velho faz as travessuras, uma brincadeira saudável passada por gerações, nada que agrida nenhum ser humano ou animal, ou a natureza.

No ano anterior, um senhor muito rabugento e mal educado da Rua Dos Mortos (no Halloween as ruas ganham novos nomes, o nome correto é Rua das Orquídeas, por causa dos enormes jardins de orquídeas em cada esquina), se recusou a distribuir os doces, Philip e seus amigos da escola ficaram a madrugada inteira fazendo barulhos e rangidos na casa desse senhor até ele ligar para a polícia dizendo que tinha espíritos de Halloween na casa dele. Foi muito engraçado.

Alguns amigos de Anna já os esperavam do lado de fora, era quatro e meia da tarde, os dois irmãos se despedem do Shrek e da sereia Ariel e caminham lado a lado até a calçada, onde seguem junto com seus vizinhos até a praça central, se encontrando no caminho com outros amigos.

Às cinco em ponto o Drácula, digo, o prefeito da cidade, da início ao evento dessa noite que não tem hora para acabar, distribuindo saquinhos feitos de tecido e com cara de abóbora laranjas com olhos e dentes pretos cheios de doces diversos e pequenos mapas de tamanho quadrado, com estatísticas de quais casas dão mais doces e quais já sofreram travessuras nos anos anteriores. Pegando seu saquinho, a bruxa horrenda Anna, seu irmão Philip e alguns amigos zumbis, aranha e os gêmeos duendes, saem pelas ruas decoradas para o evento.

Latas de lixo laranja com caras de abóboras decoram as calçadas das ruas, igual o saquinho de balas do prefeito, as casas possuem balões nas varandas, pisca- pisca de fantasmas, muitas velas e teias de aranha nos quintais. Na casa do Curinga e da Arlequina, o jovem casal sem filhos, Maison e Lucia tinham uma noiva cadáver no alpendre. Na casa do Pânico e da Unicórnio, senhor e senhora Leightsson, galhos secos e caveiras assustavam crianças pequenas. 

Já era passada das oito horas e Anna e seus amigos descansam em umas abóboras que serviam de decoração na calçada da Rua do Assombro, e eles se divertiam falando sobre suas experiências da noite, em quais casas receberam sustos, e em quais ganharam mais doces, preenchendo o pequeno mapa que será atualizado para o próximo ano, até que ouvem um barulho estranho, um gemido misturado com urro de animal, vindo do cemitério, no final da rua.

Todos logo se alarmaram, olhando uns para os outros e recolhendo seus doces, enchendo bolsos e sacolas, pois seus baldinhos trazidos de casa já estavam transbordando. 

-Não deveríamos estar aqui- disse o Zumbi, um garoto da idade de Philip, cabelos pretos curtos e corpo atlético- estamos muito perto do cemitério antigo, sabemos que o prefeito só proíbe o cemitério antigo neste dia. Ele estava certo e com medo, mas para Philip isso foi um desafio.

-Eu vou lá, o prefeito só quer nos encher de medo no dia de Halloween, só porque lá é o melhor lugar para se fazer travessuras- disse Philip mexendo os dedos como os mágicos em cima de suas cartolas. E partiu rumo o portão do cemitério.

Um arco de ferro que formavam o nome do cemitério guardava o portão principal, mais uns barulhos estranhos foram ouvidos, o que fez o pequeno grupo se encolher mais um pouco ficando mais unidos. Philip não teve problema em abrir o portão velho de ferro enferrujado que rangeu mesmo Anna tendo certeza de que não vira o irmão encostar-se ao portão. E ele caminhou até o grupo o perder de vista.

-Não deveríamos ter deixado meu irmão ir- Anna disse ao menino zumbi, e em um tom mais alto- muito menos sozinho!- Ana fitou o rapaz com raiva.

-E você acha que alguém ia conseguir parar ele?- A maioria concordou, sabem quanto Philip é teimoso.

Anna lidera o grupo até o portão do cemitério, por onde viu pela ultima vez seu irmão Philip, claro que o medo a assombrava, sentia um misto de ansiedade, medo e calafrios, mas de longe era a mais corajosa do grupo de crianças e adolescentes, Philip a ajudou com isso, com travessuras durante o ano todo.

Quando estavam apenas três metros do portão, olhos arregalados fitaram Philip caminhando tranquilamente com as mãos nos bolsos e um olhar estranho. "Esse não é o meu irmão" Anna pensou e recuou alguns passos.

-Eu disse que lá não tinha nada!- Philip de repente disse sorrindo e abrindo os braços. 

-Ei cara, onde conseguiu essa fantasia de Dona Morte?- Disse o Demônio, vizinho da rua de trás do Zumbi.

-Essa fantasia eu e minha família fizemos- ele respondeu olhando para sua irmã, fazendo os outros olharem na sua direção, ela alguns passos mais distantes agora- é tradição, não é irmã?

A criança apenas assentiu, o medo estampado na testa e o cheiro de morte no ar. Algo no baldinho dos vizinhos chamou a sua atenção, o sangue da decoração, que antes era seco, agora estava mais brilhoso, gosmento e escorria até pingar no chão, e os doces se mexiam, pareciam ter vida.

Logo todos perceberam para onde Anna olhava e ao olhar para seus baldinhos os jogaram no chão incrédulos, o que tinha acontecido? Era travessura dos vizinhos que lhes deram os doces? Na dúvida largaram no chão assustados.

Philip, ou o quem quer que seja, tinha o olhar e o sorriso presunçoso estampados na cara, então Anna começou a andar, de costas mesmo, se afastando mais, depois se virou para andar mais rápido e depois a certa distancia a correr. Ninguém mais entendeu nada e o grupo começou a seguir a criança, com Philip na retaguarda.

Estavam tão absortos no que poderia estar acontecendo que não notaram que por onde Philip passava, a decoração ia criando vida, e saia à caça de alguém para matar. O esqueleto na porta do senhor e senhora Magisters, primeiro acertou o cachorrinho que dormia a seus pés, com o gancho, já que ele era o esqueleto do Capitão Gancho, depois quebrou o vidro da porta para destravá-la.

Philip atrasou o irmão mais novo do Zumbi, o segurando na retaguarda do grupo, que foi pego de surpresa pelo cavalo sem cabeça do vizinho da frente do esqueleto. Quando o garoto gritou de dor, o grupo percebeu o que estava acontecendo silenciosamente atrás deles. Zumbi desacelerou os passos para voltar e ajudar o irmão, mas o Demônio e sua irmã Anjo, o impediram, apressando o passo e tentando se afastar de Philip. E as decorações continuavam criando vida para matar.

-Esse ano vocês não vão escapar de mim!- Aquele que possuía Philip gritou para o grupo que corria à distancia- vamos amiguinhos, temos essa cidade para tomar- e saiu caminhando até chegar em frente à sua casa, seguido pelos seus liderados. Caminhou até a porta principal, fazendo as aranhas gigantes do chão saírem andando e os morcegos pendurados saírem voando.

A casa estava vazia e silenciosa, mas encontrou sua irmã encolhida em seu armário perto da janela. A criança podia sentir o cheiro de morte que exalava do que antes era seu irmão, ela sentia muito medo e sabia que era o fim.

-Olha quem está aqui... - e a menina gritou.

-Ei, calma, o que aconteceu? Eu estou aqui- o adolescente do oitavo ano vestindo roupas de adolescente do oitavo ano abraçou a criança com fantasia de bruxa que chorava e se debatia muito, e a ninou até se acalmar.

-Foi horrível- ela disse e tornou a choramingar.

-Calma maninha, foi só um pesadelo. Agora vamos, são quatro e meia e estão todos nos esperando lá fora. - Ele dá um beijo na irmã e caminha para fora do quarto.

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6 Comentários

  1. Nada mal, nada mal mesmo! Gostei do final, um anticlímax bem adequado na minha opinião.

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    1. Uau Luiz, até fiquei sem ar kkkk obrigada pelo Feedback <3 Quando puder, volte mais vezes, vou adorar seu feedback nos outros textos.

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  2. Eita!!!! I love it!!!! Ainda bem que foi só um sonho hahhaha

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    1. Acha que eu ia conseguir dormir se não fosse sonho? Eu teria pesadelo ai hahahah

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  3. Adorei o texto, Aline. Eu queira que na minha rua comemorassem Halloween assim, todos fantasiados e participando da brincadeira. Menos a parte em que a decoração ganha vida kkkkkk.

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    1. Confesso que escrevi esse conto com uma pontada de inveja Glecio kkkk essas manias de escrever o que a gente queria que acontecesse, não é?

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