Olá leitores,
Para abertura da semana de Contos de Agosto, temos mais uma vez a presença ilustre de uma nova amiga autora, G. J. Moreira!
Um sonho, por favor!
Vivianne olhou a fachada do local de encontro, era fofo: paredes azul bebê, mesas de ferro com toalhas xadrez e "sweet crepes" encabeçando o cardápio pregado na parede. Pedir um crepe doce para uma conversa amarga? Que irônico!
— Ainda bem que veio — cumprimentou a pessoa responsável pela tristeza da mulher.
— Vim pra deixar tudo em pratos limpos, senhor Medeiros.
— Não gostei desse seu tom — disse, em tom enérgico, usado sempre no trabalho. — Quer um café?
— Não gosto de café, mas devia estar acostumada, você não sabe nada sobre mim.
— Você tá impossível hoje. O que houve?
— Nada, só resolvi que não fingirei que somos a família feliz. O homem passou a mão nos cabelos e os fios castanhos perdiam a batalha para os grisalhos.
— Somos felizes.
— Não somos, pai. — A filha xingou-se, ele não cumpria aquele papel há muito tempo, mas ela tinha o padrinho para isso. — Eu não sou.
A garçonete suspendeu a conversa. José pediu o café expresso e um sonho de creme. Vivianne quis um chocolate quente e, infelizmente, concordou na sobremesa. Não seria isso que os aproximaria. Era apenas um sonho!
—Sempre fomos parceiros, minha filha, onde esse elo se partiu?
Os ramos nos lustres a lembraram que o Natal chegava. Vivianne não ia chorar. Desde quando não tinham um em família?
— Quer mesmo que diga? Vai me ouvir sem interrupções?
— É para isso que vim. — O homem tentou pegar a mão da filha, mas ela a
colocou sobre o próprio colo.
— Quando você decidiu que a carreira era mais importante do que a gente. Nem venha com essa que pensava no nosso futuro. Não há futuro se o presente é uma merda!
— Filha, as pessoas estão olhando.
— Que se danem as pessoas!
— Sua mãe entendeu.
— Porque é cega de amor por você, ela te espera enquanto tu some.
— Mentira, sempre falo com ela.
— Com licença, os pedidos de vocês.
Por um momento, se esqueceram de onde estavam. Eles agradeceram ao mesmo tempo. O silêncio fez companhia enquanto degustavam a sobremesa, ambos, da mesma forma: primeiro a cobertura, depois o recheio e, por fim, engoliram a massa.
— Volta pra casa. Por mais que esteja magoada comigo, sua mãe não merece.
— Quero evitar te encontrar quando você resolver aparecer para fingir que somos uma família feliz. Sabe, não quero ver minha mãe chorando na tua ausência.
— Lá é o seu lar.
— Tô ótima com a Alê.
— Me deixa pagar uma faculdade então, você sempre foi tão inteligente. Fica se matando de trabalhar naquela loja. E o seu sonho de ser jornalista?
— Serei e será pelo meu esforço. Não preciso do seu afeto nem do seu dinheiro.
José resolveu não segui-la e apenas observou a menina partir. O gosto do doce foi substituído pelo amargo. A filha voltaria a vê-lo como herói, nem que fosse a última coisa que fizesse.
— Ei — a atendente o olhou —, um sonho, por favor!
Minibiografia
G. J. Moreira nasceu no dia 8 de março, sábado das campeãs do carnaval de 1988. Como o mundo não estava preparado para alguém tão apaixonada por carnaval, não houve esse desfile e sim, uma chuva torrencial no Rio de Janeiro. Gabriella se define como uma metamorfose ambulante que a cada dia rompe preconceitos para se tornar uma pessoa melhor, além de ter o carnaval como estilo de vida e o deboche como arma para sobreviver nesse mundo doido.
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