Crônica: Mil lagrimas

Bom dia!!

Hoje vou compartilhar um texto muito íntimo, mas acredite: tudo passa. Foque na solução que você a encontrará. E quando tudo parecer difícil, apenas aguente por mais um dia. Depois mais um dia. E mais um dia. A vida é boa demais para desperdiçar, pois há um futuro brilhante te esperando. Só mais um dia.

🎵 Para acompanhar a leitura, escute: Inside Us All - Creed 

Boa leitura!!

Mil lagrimas

Seu humor muda repentinamente. Você rói uma, duas, três unhas até sangrar. Vê memórias passando diante dos seus olhos como se assistisse à televisão, tão vívido quanto no dia em questão. Lembranças que o machucam tanto quanto a navalha que segura entre os dedos. Num instante, sua cabeça é inundada por pensamentos atordoados. Vozes o condenam, e você ouve também gritos esganiçados. Uma pressão invisível e sufocante preenche o seu peito.

Rolam as primeiras gotas. Desespero e angústia. Você tenta detê-las, mas parecem ser a própria teimosia brotando nos olhos, cada vez mais fortes do que antes. Como uma onda gigante, a tristeza o afoga em mil lágrimas e um soluço apertado escapa entre os lábios.

Elas transbordam e rolam por seu rosto até ficarem penduradas no queixo. Você as enxuga. Ódio, rancor e sofrimento. Elas parecem vir do íntimo da sua alma e agora se esvaem livremente, assim como a água que escorre no telhado em dia de chuva. Você tenta detê-las, tudo em vão. Não há outra maneira; é como tentar parar o fluxo de uma represa com uma peneira. Você se entrega por longas horas.

Pouco a pouco, seus músculos enrijecidos relaxam suavemente. O cansaço o alcança e seu rosto agora corado revela traços mais suaves. As vozes silenciaram; o grito e a dor são apenas ecos numa caverna fria e úmida. Resta apenas a quietude desconcertante.

Arrastando os pés até a pia do banheiro, você gira o registro sob o rangido da torneira. Impõe as mãos em concha a fim de reter um pouco de água, encharcando o rosto com água limpa e pura. Mira seu reflexo no espelho, constatando que suas olheiras não podem afundar mais que aquilo. Outro guincho do metal ataca a têmpora quando você fecha o registro.

Mas a leveza em seu espírito o faz sorrir de canto. Você respira fundo, sem pontada alguma. Tudo o que o incomodava, não o toca mais. Toda a fera indomável que habitava em seu interior, agora pulverizou em pó e foi embora junto com as lágrimas, que também foram libertas.

Agora você pode dormir em paz.

Texto "Mil Lágrimas" por Aline C. Duarte, 13/06/2013. Revisado 16/10/2025