[Contos de Janeiro] Verdadeiro Preconceito por Aurora Welsh

Olá Leitores,

Hoje a Aurora irá contar a história da Madalene para nós, uma história que tenho certeza de que você vai pensar e repensar sobre, no mínimo vai se colocar no lugar da jovem moça e se emocionar com o que ela tem a nos dizer. E nunca se esqueça: nós não nascemos sozinhos, e não podemos passar o resto da vida assim. Boa leitura!

Verdadeiro Preconceito por Aurora Welsh


Essa é a vida de Madalene, uma pessoa que sofreu por ser diferente, de verdade. Mas, fica a pergunta antes de começarmos: Quem é Igual num mundo onde reinam as diferenças? 

Madalene era uma moça jovem quando começou a ser tratada com desprezo por outros, ela sequer sabia a razão pela qual estava sendo tratada daquela forma por seus semelhantes, até sua família a tratava mal por conta de seu diferencial. 

Madalene não era estranha, era divertida, extrovertida, bricalhona, inteligente, interessante, interessada, humilde, de bom coração, caridosa e fervorosa, a pessoa que sempre dava tudo de si para o que quer que estivesse fazendo. Tentava se superar todos os dias para ser alguém melhor. 

A garota usava roupas femininas, se vestia bem apesar de ser um pouco corpulenta. Não tinha muito seio, nem muita nádega, porém tinha quadris largos e uma cintura invejável, alem do rosto de anjo, com cílios longos, lábios rosados, sobrancelhas sempre bem feitas e cabelo arrumado. Madalene era extremamente vaidosa. 

Desde os 11 anos, ela sofria por ser diferente, era apontada na rua, principalmente quando atingiu a puberdade, aos 13 anos, e seu corpo começou a mudar, sua voz também começou a mudar. Ela se via no espelho e não se reconhecia mais. Cresciam pelos em lugares estranhos que a forçavam depilar três vezes na semana. Apareciam espinhas horrorosas em seu lindo rostinho. Com todas as mudanças, ela se esforçou ainda mais para continuar sendo feminina.

Com 15 anos, conheceu Bruno, um garoto que aparentemente gostara dela de verdade, a fazendo se sentir única e desejada. Bruno não era o rapaz mais bonito, nem mais popular, porem dava flores, levava lanches deliciosos para os dois e só tinha olhos para ela. 

Os pais de Madalene odiaram Bruno no exato momento que o viram, falando que Madalene não podia namorar com ninguém, pois era uma aberração da natureza. Sua mãe, em prantos, começou a jogar pratos em Bruno e Madalene e o pai, com raiva, xingava e praguejava contra a moça que estava na flor da idade. 

Entristecida por nunca ser aceita como era, Madalene subiu para seu quarto junto com Bruno e o ajudou a fugir pela janela, dando um beijo tão apaixonado que talvez fosse um “Adeus” da menina dos olhos de Bruno. 

Ele, inconformado por não entender tamanha crueldade das outras pessoas para com Madalene, foi para casa a pedido dela e lá ficou, sendo esculachado por seus dois irmãos mais velhos, que não entendiam como Bruno conseguia ficar com alguém como ela, tão diferente. 

Dias se passaram e a moça não mais aparecia na escola, não respondia mensagens, não atendia o celular. Bruno não ousou ir na casa dela, já que seria posto para fora com berros e tapões como da ultima vez. 

Em contrapartida, um garoto novo chegou, Mário era seu nome. Tinha cabelos curtos, cacheados. Era um pouco corpulento e possuía barba rala. Os olhos de Mário sempre estavam carregados de tristeza, ele sempre estava com fones de ouvido e não falava com ninguém. Ia embora o mais cedo que conseguia após a saída, não participava das aulas de educação física e a todo momento, coçava os olhos como se estivesse segurando o choro. 

Bruno até tentou falar com Mário, tentando se enturmar com o garoto novo, mas ele era repelido por palavras diretas e ásperas. 

Mário era um rapaz atraente aos olhos das garotas, que sempre tentavam se aproximar do garoto de maneira imprópria e sempre eram repelidas com certa brutalidade. 

Numa festa, onde Mário foi obrigado a ir por seus pais, algumas garotas tentavam beijá-lo de todo jeito, mesmo ele relutante. Bruno também estava lá e mandou que elas parassem, levando Mário para fora da festa, onde finalmente conversaram de verdade. 

Mário contou que era novo na cidade, que sentia falta de ser ele mesmo, que naquele momento, não se sentia muito bem consigo mesmo e estava deprimido. A conversa fluiu como se eles já se conhecesse há anos. Bruno falou que tinha uma namorada, mas que ela pareceu ter ido embora da cidade ou desaparecido do mapa. Disse em conjunto, que sentia falta dela, do beijo, do perfume, do sorriso radiante que sempre ganhava da moça todos os dias na escola. Mário pareceu comovido e acabou abraçando Bruno, falando que tudo iria ficar bem.

Os meses passaram e Mário e Bruno se tornaram amigos. Passavam horas conversando todas as noites, riam e se divertiam muito. Bruno parecia gostar de verdade daquele garoto estranho. 

Mas, Mário sempre foi reservado quanto aos familiares, nunca deixando Bruno ir até sua casa, nem apresentando seus pais por fotos. Não deixava ser levado pelo amigo até a residência, sequer Bruno tinha o número do telefone fixo da casa de Mário. 

A curiosidade crescia junto com aquela amizade, e certa vez, Bruno decidiu seguir Mário até sua casa sem ser visto. Por todo o percurso, o rapaz olhava para trás e para todos os lados, vendo se não estava sendo seguido e mesmo assim não vira Bruno. 

Durante o percurso, Bruno percebeu que já tinha feito aquele mesmo caminho muitas vezes com Madalene, sua ex-namorada. Estranhou, mas aceitou, pensando que talvez Mário morasse próximo a Madalene. O espanto foi tremendo quando viu Mário entendo na casa de Madalene, usando o mesmo molho de chaves com um chaveiro de ursinho que a moça também usava. 

Naquela noite, Bruno achou que Mário fosse irmão de Madalene ou quem sabe um primo, mas decidiu tirar a prova dos 9. Ele pegou o celular da própria mãe naquela noite e foi para a casa de Madalene, assim que chegou lá, vendo as luzes todas apagadas, ligou para o celular de Madalene, que ele sabia que ficava sempre sobre a cômoda, como em qualquer ocasião. 

Como esperado, ele viu o brilho do celular durante a ligação. Não tinha se tocado que o celular de Mário tinha dois chips. 

Bruno voltou pra casa, com a mente cheia de vários pensamentos. Como ele não tinha percebido que Mário era a própria Madalene desde o começo? Como não percebeu que a garota que ele amava, era um garoto? Por que ela nunca lhe contou? Ela sabia que ele a amaria ou o amaria de qualquer forma... 

No dia seguinte, assim que Mário chegou na escola, não encontrou Bruno. O rapaz chegara somente no segundo período de aulas e mesmo assim, não falara com ele. Teria algo errado? Mário, pensativo, foi para o banheiro, sem notar que Bruno estava o seguindo. 

Assim que a porta fechou atrás de Mário, Bruno entrou e o abraçou por trás, sem se importar se teria outra pessoa naquele lugar, se os vissem ou não. Bruno apertou Mário tão forte que o rapaz teve que se desvencilhar do outro para respirar. 

“O que aconteceu com você?” Mário perguntou, se curvando um pouco para respirar. Parecia ligeiramente assustado. 

Bruno sorriu, empurrando Mário até a parede. Mário era mais baixo que Bruno, e isso facilitava muito as coisas. Bruno o prendeu e o beijou. Sabia que era sua namorada ali. Sabia que era a pessoa que ele mais amava. Mário o afastou, relutante e em vão, pois ficou vermelho e com os olhos marejados, querendo abraçar Bruno e matar a saudade do namorado. 

“Eu amo você, seja lá quem for. Madalene, Mário... tanto faz... você é você e é isso que me importa!” disse Bruno, abraçando o menino a sua frente. 

Em seguida, Bruno abriu a mochila e pegou um vestido que era de Madalene, em verdade, o preferido dela, que tinha ficado na casa de Bruno numa noite que foram para a piscina durante a madrugada. Ele estendeu a peça para Mário, que já se debulhava como nunca antes. 

Naquele mesmo dia, durante a tarde, Madalene retornou, mais radiante do que nunca, passando por todos aqueles olhares com a cabeça erguida, sendo ela mesma. Sendo a menina radiante, amável e calorosa que sempre fora e agora, sabia que não precisava temer mais nada, pois Bruno a incentivava a ser ela mesma sempre, não importando a situação. 

Ela superou tudo que a estava prendendo dentro de uma caixa, vibrou e arrasou... O que falta pra você sair e brilhar também?

Aurora, como está pensando, é apenas um pseudônimo. Adolescente de 17 anos, escreve há quase dez anos. Como a maioria dos escritores, ela começou a escrever por conta de alguns problemas sociais e sentimentais, mas hoje escreve por prazer pela escrita e criação de histórias.
Possui quatro livros postados no Wattpad, um se trata de um romance LGBT; O segundo é um romance, todavia nada romântico, como costuma dizer, se tratando de tudo que acontece ao redor da vida da protagonista, com um grave problema de saúde (nada a ver com A Culpa é Das Estrelas); O terceiro é um livro de ficção geral, misturando um pouco de tudo e principalmente: um mundo completamente novo, com seres novos e mitologia própria; O ultimo e não menos importante é um livro de cunho pessoal, dito cujo ganha informações novas todas as vezes que pensa em algo polêmico relacionado ao assunto do livro.

Wattpad @AuroraWelsh
WhatsApp: +55 91 985085039



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2 Comentários

  1. Notei que se tratava de uma trans desde o começo, talvez por ter pesquisado do assunto para a minha personagem.

    Realmente a Madalene não é diferente. A questão da transexualidade que é difícil de entender, e por isso é mais fácil apontá-la como aberração.

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    1. Infelizmente, há seres humanos que são tratados dessa maneira, em plenos dias de hoje, com tanta tecnologia e entendimento em relação aos anos passados.

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